quinta-feira, 12 de abril de 2012

Quando as consciências se tocaram, que não eram conscientes.

Johnny estava mais uma vez encurralado, por suas vozes interiores, que brigavam sem parar.

- Tu és uma pretensiosa! Não me admira que ele esteja tanto tempo a te escutar.

- Só sei o que é bom pra ele! e o que é bom pra nós! só não sei se é bom pra você, que só acha bom o próprio mal.

- O que tu me dizes?! Sabes logicamente que tu só busca o esforço, evitar o ócio para faze-lo esquecer de nós duas! não sabes o perigo que passamos se isso durar muito tempo?.

- Não quero que ele nos esqueça, quero que ele lembre de si mesmo.

- E por que acha que o trabalho vai faze-lo e não o ócio? Tu já destruíste a mais má das consciências dele com tanta barulheira, e queres que eu vá também agora? Ora, me deixas viva! me dê o valor que eu tenho, pois sou tão ou mais importante que tu!

John reagiu e levantou da cama, e ainda em indecisão se dirigiu a cozinha. Apanhou aquele pão que adormeceu duas noites seguidas ali, sem embrulho e comeu.

- Não sei por que nós discutimos ainda, estamos sempre impossibilitados de tocá-lo, ou mudar suas acções.

- E qual o problema? Devemos muda-lo?

- Dever? Não sei, mas se eu tivesse o poder, o faria.

- Tu sempre querendo se mover, e mudar o mundo inteiro! Nunca foi seu querer que moveu o mundo! Nem nunca vai ser! Se sentes impossibilitada agora que reparou sua sutileza, observa de novo a independência do mundo!

- Que queres dizer com isso?
- Não vê? Não é por que ele é confuso que o é pela existência de  mais de uma consciência aqui brigando. Ele não espera nossa decisão. O erro clássico de sua laia, achar que comanda o mundo, e o movimenta. Nossa companheira se foi, e por isso tu continuas a buscar hegemonia total e quer me fazer sumir também.

- Só quero o bem.

- Acontece que só quando ele conseguir se manter preso a vícios divinos e mundanos em cada ato de sua vida, que tu ficarás continua e eterna na ilusão de vocês dois.

- Admita você também o quer!

- Não devo querer ele! Devo estar pronta pra me libertar de minha própria existência para que ele possa estar pronto pra fazer o mesmo um dia pelo mundo dele.

- Então você quer controla-lo desse teu jeito inerte, até que ele pare e não viva mais?! Quer que ele morra em sua própria consciência, e que nós sumamos ao mesmo tempo?!

- E o que há de mal nisso?!

- Me lembro da outra sempre repetindo essa frase. Tu não és tão diferente.

- Eu aprendi muito com ela - melhor que tu que a ignoraste, ou pior, condenava! O que ela tentava tanto evitar ,e tu ao mostrar sua opinião acaba por fazer também. Tu e ela não eram tão diferentes.

- Tudo que eu queria é que ele nos escutasse, assim poderia decidir seu lado de vez.

- Ele seriam incapaz de decidir, nos trocaria todos os dias e faria surgir de novo a outra sumida.

- Ele aprenderia com a vida e com o mundo que uma de nós é melhor pra ele.

- E se ele não sabe o que é melhor ou pior? e se ninguém o souber de fato? no mundo dele, ninguém parece saber, eles se guiam de forma estranha e falsa, mas dizem acreditar de verdade nas coisas.

- De fato se algo ou alguém conseguisse acreditar de fato em alguma coisa, não seria mais algo ou alguém. Teria talvez chegado ao ponto de não ter iniciado nem terminado a jornada do ser.

- Me pergunto se devo ser totalmente contrária a você todo o tempo, me sinto existindo ao me sentir considerando.

- Nós consciências somos e estamos sempre muito preocupadas com o penso logo existo, é natural.

- Eu amo essa afirmação, sempre me perguntei se foi uma consciência ou um ser humano que a fez surgir do mundo das ideias.

- O mundo das ideias é que fez surgir qualquer frase pra nós por conta própria! Não seria estranho nós separarmos fontes distintas de uma gota de oceano? se mesmo vendo jorrar da terra a água não temos certeza se é aquele chão realmente que trás tamanha exaltação à vida?

- Realmente não sabemos de onde vem, podemos fingir acreditar em alguma ideia-forma, mas pra que servem as ideias-forma? Pra mim nada.

- Isso por que tu está sempre preocupada em dizer o que está certo ou o que está de acordo com o que move o mundo dos sentidos.

- Por quê se apega tanto ao mundo das ideias? Sei que não sentimos, mas nossas ideias formam base pra “sentirmos” o bastante pra gostar do mundo dos sentidos.

John mordeu aquele pão exigindo muito esforço, bebeu um copo de leite, e mordeu de novo. Os olhos piscaram lentamente e só.

- Eu levo isso a sério.

- Eu também. Só uso a meu favor.

- Teu favor? tu não sabe o que é seu favor, não sabe direccionar um vector ou um sentido verdadeiro nem pra ele nem pra ti mesma. Enquanto você limita sua visão pra sentir um conforto da própria alienação.

- Alienação é buscar não viver só para ter o direito de dizer que vive de verdade, e ainda por cima defende que não há verdade.

- Defendo sim que a verdade é relativa, mas tu não percebes isso por que não se preocupa com as coisas importantes, seus afazeres como consciência. É relativa por que ninguém sabe, e não é absoluta por que ninguém pode dize-la. Não quer dizer que não exista, só temos os nossos próprios sentidos pra determinar isso pra nós mesmos.

- Meus sentidos que me guiam, me direcionam para o progresso, e os movimentos certos.

- Não use meu argumento a seu favor, tu pensaste sobre os sentidos? Sabes do que está falando?

- Sinto a cada instante por que me proponho a viver! Seria um faço logo sinto, e sinto logo existo. Por que ninguém existe só de pensamento. E você por mais pensativo que seja, por mais teórico que tenha se tornado sobre os sentidos e as gotas do oceano, não tem autoridade no sentir, por que não provoca o sentir nem em seus próprios pensamentos.

- Já lhe disse que minha intenção de não ter intenção, é a busca de não mais existir. Teorizar é a única coisa que faço que não pode se tornar falsidade pois de fato é fazer nada.

John liga o computador, e observa seu desktop cheio de arquivos antigos e praticamente empoeirados.

- Você tem mais intenções que todas as consciências do mundo, eu só falo, faço, e penso como se tivesse intenção. Mantenho a vida como está, e no final das contas por não ter controle algum não faço nada. E você quer que tudo acabe, como se aceitar a existência e nega-la fosse acabar com seu sofrimento de existir.

- Sofrimento quem faz somos nós mesmos, e eu não sofro, só existo.

- Pois eu existo e nunca vou sofrer por sempre estar feliz em meu movimento.

- O pior é sentir que por mais imparcial que tentemos ser, enquanto houver uma opinião parcial no mundo, a sua também terá de ser.

- Tua vida no mundo dos seres seria horrível, você seria boa em todas as artes, seria plena e feliz por si mesma, e ainda assim seria uma vida triste, pois não teria parcialidade compatível contigo.

- Será que em algum momento da eternidade do tempo inexistente existiu alguma parcialidade compatível comigo? Uma consciência ou um ser tão imparcial quanto eu?

- Não sei, só sei que os seres não parecem viver desse modo, ou sentir desse modo. Mas o que sabemos por trás das aparências deles? não há aparelho sensitivo para enxergar as outras consciências!

- E se nós não controlamos o John, o que garante que alguma consciência controla alguém? Talvez o maior dos mestres em vida não tenha uma consciência compatível com suas ações.

- Alguns seres humanos dizem que eles são a própria consciência, ou melhor, nós somos eles.

- Se isso é verdade, nós não existimos. Ou não somos conscientes.

- Seria então nesse caso “Sou consciente e sou minha própria consciência logo existo”. Por que não adianta dividir os mundos, se eles não são um só, e não adianta existir duas consciências se elas não são uma só.

- O que há de absoluto no ser, é não haver divisões e não há mais nenhum motivo para eu te chamar de tu, tu me chamar de você.

- Pois no final sou e somos, tudo uma coisa só.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Liberdade

“- As pessoas só querem ser livres!”

É óbvio que todos querem ser livres não é? Esse conceito é motivador de muitos outros, mas no final das contas está tudo interligado. O que eu vou tentar evidênciar aqui é um pouco sobre as necessidades originais que todos nós temos e que são motivos para nossa inquietação.

Ser livre é poder ter escolhas? É saber que pode escolher? Ou é fazer o que quer, quando quer? Vou me concentrar nessa última questão. Fazer o que quer exige no mínimo a compreensão do que se quer e isso quer dizer que numa sociedade como a nossa que tem conceitos baseados na pouca ou muita informação que cada um recebe, ninguém sabe realmente o que quer. Mas isso me faz questionar então porque querer liberdade, sendo que até o conceito de liberdade foi é e será controlado durante toda a história. Controlado por nós mesmos, por que nós somos a tv e nós somos o facebook... Afinal não foram cavalos que programaram tudo aquilo.

Então dentro das idéias primodiais, que o ser humano ainda vai ter conciência plena, onde está a liberdade??

Pra você realmente se sentir livre tem que se desprender totalmente, segue o passo a passo:

1- Reconhecer algo que te prende;
2- Se tornar no máximo um observador, totalmente imparcial daquilo que te prende;
3- Depois não reconhecer mais nenhuma ligação pois a imparcialidade quebra todas elas...

Por exemplo pra ser livre da culpa de um erro que cometeu na vida, o infeliz (ser humano comum) precisa perceber todos os motivos que o fazem sentir culpado, olhar pra esses motivos, e conseguir ser imparcial.(Estudo do caso).

Então o que é se desprender dos conceitos que nós mesmos criamos e criaremos sobre tudo ?

Ser Livre é não escolher, é estar imparcial e sem a menor pretensão de pretender.

A necessidade original da liberdade é melhor compreendida pelos orientais, e quem já conhece pelo menos um pouco sobre a ideia da meditação real ou a doutrina Zen, entende do que se trata a conexão do ser com a fonte divina.

Se alguém parou de ler no último parágrafo é por que não entendeu nem o primeiro, e pior que isso nem parou pra reparar em si mesmo o ser preso que é.

Continuando e explicando melhor a tal da fonte divina...

Nós seres humanos temos a dificuldade de entender que não estamos separados do universo e de tudo que há e que não há nele. Já deu pra entender que nossa carne e nossos ossos são feitos da mesma coisa que qualquer outra coisa material. Mas e a nossa tal individualidade? Essa coisa que chamamos de ser/consciência?

Eu nem estou preocupado em provar se a tal individualidade existe ou não, mas sim em comparar a nossa matéria (carne e osso) com a nossa consciência, e chegar à conclusão de que essa consciência veio de algum lugar: a tal fonte divina, e mais uma vez concluir que não estamos separados do todo...em sentido algum.

Então voltando à liberdade, podemos juntar tudo e entender que a necessidade de ser livre é a da consciência de entrar em contato com sua fonte e encontrar equilíbrio.

Se eu proponho que a liberdade tenha outra definição, então também devo propor uma explicação pra definição já existente. essa explicação virá...